Houve uma época em que o homem imaginava o futuro como algo brilhante. Não só no sentido de uma vida melhor, afinal todos nós trabalhamos para isso, mas porque tudo tinha brilho. Roupas, carros, móveis, espaçonaves. Predominava o material prata e seus reflexos. Basta assistir os filmes de algumas décadas, de Perdidos no espaço, passando por 2001 até o E.T. Todos têm algo reluzente.
Imaginava o homem receber seu jornal, em sua cadeira de leitura, da boca de um robô-cão. Hoje, a realidade, é que pode lê-lo na internet ou recebê-lo do velho Totó, que o trás envolto em baba.
A mulher teria robôs limpando a casa para que pudesse preservar a juventude e elegância. Esses robôs não só não estão a venda como sua jornada aumentou.
Carros? Ah, os carros! Seriam como dos Jetsons. Hoje, os temos com alguns aspectos aperfeiçoados, mais confortáveis e seguros, mas longe das tão sonhadas máquinas voadoras.
O mundo não mudou? Sim, claro que mudou, mas sem as fantasias imaginadas para o ano 2.000.
Estávamos conversando com alguns empresários quando um deles disse: - Não consigo contratar torneiros mecânicos. Ninguém responde meus anúncios.
Essa queixa recebeu apoio de outros que nos acompanhavam.
Um profissional que estava conosco, sem grande envolvimento no setor mecânico, pensando em estender a conversa disse: - Essa é uma profissão em extinção.
Metralhado pelos olhares ouviu: - Extinção coisa nenhuma, quem você acha que usina as peças dos produtos que você compra?
Ora, quem diria, no mundo da rápida obsolescência, precisamos do velho e sempre atual torneiro mecânico!
Que tal o sapateiro? Já não existem mais? Claro que sim, apenas com novas roupagens, instalados nos shoppings!
A tesoura não corta, o cabo da panela caiu, e agora? Joga fora e compra outra ou ainda há conserto? Quem o fará?
Ninguém mais quer trabalhos braçais e manuais, todos querem ser doutores. Será?
Meus amigos queriam ser contadores, economistas, médicos, advogados, e se tornaram. Muitos acham que os filhos devem procurar outras profissões pela saturação das áreas em que atuam.
O cozinheiro, profissão que era escolhida por poucos, hoje com melhor direcionamento, virou chefe, e o homem pôs os pés na cozinha. A mulher, sem seu robô para os cuidados do lar, decidiu por os pés no escritório, as mãos no volante do taxi, do ônibus e do caminhão.
Na direção da empresa não dizemos mais meu chefe, mas minha chefe. Lá está a mulher no comando.
Inversão de papéis? Ora, se quiser chamar assim tudo bem, mas na minha ótica é emprego.
A palavra emprego quer dizer ato de empregar ou aplicação, não reserva de situação. O emprego supre necessidades.
Vamos refletir um pouco:
O homem tem necessidades a serem supridas, para isso irá em busca de pessoas com aquele conhecimento específico. Pronto, a necessidade gerou um trabalho.
Esse trabalho gera demanda para aplicação – prefiro emprego- de conhecimento para atendimento às necessidades.
Esse ciclo, necessariamente, gera cargos e empregabilidade fixa? Não obrigatoriamente.
Qual o futuro dessa empregabilidade? Como tudo na vida será cíclico, atendendo momentos e modas.
A empregabilidade deve atender o conceito da adaptabilidade e geração de necessidades para ter futuro.
Dentistas, hoje, trabalham mais na correção dos dentes do que na extração. Mecânicos mais em revisões e pequenos consertos que reformas.
A evolução do conhecimento não tem tornado obsoleta as profissões, mas os profissionais.
Quando telefono para o encanador ou bombeiro – a denominação é diferente em algumas regiões – recebo um profissional que já traz um arsenal de peças, e em minutos realiza o conserto. Um prático? Não, na nossa região um engenheiro, que têm uma empresa de manutenção predial e presta um serviço nota mil.
O velho guarda-livros virou contador, deixou os escritórios, ganhou importância nas empresas e está de volta, atendendo em suas instalações, terceirizando o emprego do conhecimento. Com isso, muitas empresas que não terceirizam estão sentindo falta de pessoas capacitadas para atendê-las.
O futuro da empregabilidade, que voltou para casa, atuando em terceirização, está gerando a empregabilidade do futuro. O mercado criará, sem dúvidas, uma forma de tratar a questão, adequando-se à versão já conhecida e resgatando-a ou adaptando-se a um novo conceito.
E o caixeiro-viajante que virou vendedor e foi ameaçado pela internet? Este a usa e considera um extraordinário recurso de apoio e alavancagem de seus resultados.
E a velha-lábia? Esta se tornou oratória e o transformou em um comunicador.
Empresas, cada vez mais, estão necessitando de profissionais que apresentem seus produtos com clareza, pois a massa de informações já não permite que o consumidor e cliente sejam atraídos com facilidade.
O vendedor já não pode ser um prático, precisa ser um estudioso da arte do marketing e da comunicação.
Emprego e empregabilidade sempre existirão para o conhecimento que encontra aplicação atendendo uma necessidade.
Ao profissional cabe decidir que conhecimentos quer ter para ter empregabilidade.
Ivan Postigo
Diretor de Gestão Empresarial - Postigo Consultoria
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